OS PRIMEIROS ACHADOS
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“Não havia prata a esperar do futuro, mas,
exatamente quando a Coroa estava perdendo
a esperança de encontrar ricos depósitos naquela
região (...), alguns paulistas venturosos
encontraram ouro de aluvião em escala até então
sem precedentes, e tiveram início as primeiras
grandes corridas do ouro.
(BOXER, 1969, p. 52).
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Ao que tudo indica, foi entre 1693 e 1695 que ocorreram as primeiras descobertas de jazidas na
região das Minas Gerais. Elas foram possíveis graças às Bandeiras paulistas. Havia algumas décadas,
estes homens de Serra Acima (assim também eram conhecidos os paulistas) organizavam expedições
aos sertões da colônia com fins variados: pilhagem a tribos indígenas, destruição de quilombos
financiada por autoridades régias, prospecção de terras a fim de descobrir prata, ouro e pedras preciosas
e, principalmente, captura do gentio, o ouro vermelho dos paulistas. O apresamento e escravização de
indígenas foram para eles, durante o século XVII, a empresa mais importante, mais do que a procura
pelo ouro. Nos dá boa idéia disso o documento a seguir:
“Passando pelo sertão, deram com uma aldeia neste distrito do Rio das Mortes, a que chamam
Cataguases, onde prendendo muito gentio do beiço e orelhas furandas, este falavam perguntando por
que os perseguiam; se era pelo que traziam no beiço e nas orelhas, que os largassem, que lhes iam
mostrar. Não levados os paulistas desta oferta, nunca deixaram de os prender (...)”.
(Notícias do que ouvi sobre o princípio destas minas, autor anônimo. Apud MONTEIRO, 1999, p. 92)
Observe que os índios apresados ainda tentaram amenizar a situação prometendo aos paulistas
que lhes iam mostrar, digamos, a fonte dos objetos que traziam pendurados nos beiços e orelhas. Não
seria absurdo supor que estes objetos oferecidos aos bandeirantes fossem feitos de ouro e, mesmo
assim, segundo o relato, os paulistas desprezaram a oferta, preferindo prosseguir com a captura do
gentio, atividade central de suas expedições.
Foi com a descoberta das jazidas de Minas Gerais, em meados da década de 1690, que esta
situação se modificou um pouco. A atração exercida pelas novas áreas mineradoras levou um sem
número de paulistas, bem como homens de outras partes da colônia e do exterior, a se dirigiram às
Minas. De qualquer forma, a escravização do gentio, continuou sendo, para os povos de Serra Acima,
importante atividade econômica.
Duas notas são necessárias quanto ao apresamento de índios praticado pelos paulistas. Primeiro:
este caso foi diferente do que ocorreu, por exemplo, no Nordeste açucareiro, onde a mão-de-obra era
adquirida num contexto de economia de exportação. No caso dos paulistas, os negros da terra (os índios
escravizados) inseriam-se mais no contexto de sua própria economia doméstica.
Segundo, a relação entre capturados e bandeirantes não pode ser entendida tão somente no
âmbito econômico ou de captação de mão-de-obra escrava. O convívio com o gentio contribuiu para
que “os venturosos paulistas” se tornassem exímios conhecedores dos sertões e combatentes de
primeira ordem nestes terrenos. Outros pontos: foi comum o ajuntamento de paulistas e mulheres.
índias, fato que repercutiu na modelação dos costumes e da vida doméstica daquela gente. Para não me
estender, poderia falar ainda da influência das línguas indígenas sobre o falar dos bandeirantes. Só para
se ter idéia, até meados do século XVIII, os falares de origem tupi foram os predominantes na
comunicação do povo, mais do que a língua portuguesa.