7. O BAIXO VALE DO RIO SAPUCAÍ: O RIO COMO ATOR HISTÓRICO
Este capítulo procura esboçar uma narrativa sobre o rio Sapucaí como ator
histórico na região do baixo vale.
O foco de investigação é compreender em que medida o rio principal da
bacia teve papel preponderante como elemento de estruturação do
espaço; de delimitação de balizas e referências geográficas dos caminhos
de penetração e conquista de territórios; como fator de fixação dos
primeiros núcleos populacionais; como referência cartográfica para
identificação de quilombos, de registros de cobrança de impostos e de
projetos de traçados ferroviários associados aos de navegação; como
marco estratégico das rebeliões e proposições separatistas de
fragmentação regional. Em outras palavras, interessa-nos entender até
quando e sob quais circunstâncias o rio – neste caso, o rio Sapucaí, teve
presença como “ator histórico” no tempo pretérito.
Neste texto procura-se realizar esse exercício de prospecção da história do
rio Sapucaí, notadamente no baixo vale.
Estão-se tomando como fontes de consulta, a produção de alguns
pesquisadores “antiquários” dos municípios do baixo vale do Sapucaí;
textos de memorialistas do século XVIII e XIX; almanaques do final do
século XIX e das primeiras décadas do novecentos; dicionários de
toponímia mineira e algumas análises da cartografia que trazem o rio
Sapucaí naqueles séculos.
Quanto à produção historiográfica de cunho mais generalista está-se
restringindo à produção de Waldemar de Almeida Barbosa sobre a História
de Minas. E quanto à produção de cunho acadêmico, adotou-se a contribuição da historiadora Carla Anastásia, a do economista Cristiano
Restituti e da própria pesquisadora sobre alguns dos temas acima
enumerados. A referência a estes autores encontra-se devidamente
mencionada no texto.
Nos mapas que serão apresentados neste texto, sempre que possível,
serão assinalados dois pontos geográficos significativos para a
identificação de nosso objeto de estudo: (i) a foz do rio Sapucaí no rio
Grande, ponto terminal do território que estamos denominando como
baixo vale Sa.pucaí e (ii) a foz do rio Verde no rio Sapucaí (hoje território
de Paraguaçu, submerso pelo reservatório de Furnas). pág 123/124
........................................................................,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,......
7.4.2. As Bandeiras
O leito dos rios foi a trilha preferida pelos exploradores. Estes,
organizados em expedições particulares, avançaram sobre os sertões, a
partir do século XVI. O que motivava os bandeirantes além do
aprisionamento dos índios era a descoberta de ouro e pedras preciosas.
Monsenhor José do Patrocínio Lefort, emérito estudioso de Campanha,
realizou alguns trabalhos de minuciosa pesquisa sobre os primórdios do
povoamento da região mais tarde conhecida como Sul de Minas. No seu
texto, “O Sul de Minas e as Bandeiras” o pesquisador indica as fontes de
consulta – cuidado nem sempre seguido por outros pesquisadores do
tema.
Segundo Lefort (1994), o rio Verde e o rio Sapucaí, pela proximidade
geográfica, foram descobertos à mesma época pelas bandeiras
organizadas no século XVI. Atribui-se à bandeira do Capitão português
João Pereira de Sousa Botafogo ([1540?]-1605)85, já em 1596, a chegada
nas “terras do rio Sapucaí e Verde”. Lefort questionava-se sobre o local
em que esta bandeira teria “apanhado as cabeceiras do Sapucaí e os
tijucais do rio Verde”.86
Ricardo Rebello, pesquisador da história de Machado, quando se reporta
aos primeiros exploradores da região, não menciona João Botafogo. Diz o
autor:
Já em 1.597, Affonso Sardinha, acompanhado do naturalista
alemão [Wilhelm] Glimmer, descobriu as minas de
Jaguamimbaba e chegou à região do Sapucaí. Nesse mesmo
ano, a bandeira organizada por Martim Correia de Sá, saindo
do Rio de Janeiro, alcançou as cabeceiras dos rios Verde e as
do Sapucaí. (REBELLO, 2006, p. 22) (grifos nossos)
Fonte:Capacitação de Educadores em Educação Ambiental e Educação Patrimonial Focada em Recursos Hídricos: A Fazenda-Escola Fundamar (Paraguaçu/MG, baixo curso do rio Sapucaí) por Maria Lúcia Prado Costa (Transcrição) Universidade Federal de Minas Gerais
Mestrado Interdisciplinar em Ambiente Construído e Patrimônio
Sustentável
http://migre.me/vt0PL pág 142/143