sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Primórdios da Indústria Paulista por Maria de Lourdes Mucci Fermino (Transcrição)

Os três primeiros séculos da existência brasileira, sob a dominação portuguesa, se caracterizam pela ocupação de uma estreita faixa do litoral, desenvolvendo-se, sobretudo a indústria açucareira do Nordeste e mais tarde a exploração das minas de ouro no interior do país. 
O papel dos paulistas e antigos povoadores do Planalto de Piratininga, por isso, foi bem diverso da gente do Nordeste. Aqui não floresceram os canaviais, com seus engenhos, suas casas grandes e os negros trabalhadores escravos. Ocupando um território de altiplano, de clima frio e úmido, afastados do litoral, os paulistas constituíam uma gente à parte, de forma tão diferente. 
Sua ocupação principal consistiu em desbravar o vasto interior, hostil e desconhecido, preando índios e buscando minas de ouro. Isso formou o caráter paulista, de independência voluntariosa, nem sempre submissa aos caprichos do reino e seus representantes. Antônio Pais de Sande, governador do Rio de Janeiro no Brasil Colônia, assim escreveu referindo-se à gente de Piratininga:
“Todos são briosos, valentes, impacientes da menor injúria, ambiciosos de honra, amantíssimos de sua pátria, benéficos aos forasteiros, adversos a todo ato servil, pois até aquele cuja muita pobreza lhe não permite (sic) ter quem o sirva, sujeita antes a andar muitos anos pelo sertão em busca de quem o sirva, do que servir a outrem um só dia. Os filhos sabem a língua do gentio melhor do que a materna... e todos saem do berço com a doutrina da conservação da sua liberdade”.
E foram essas particularidades geográficas: afastados do litoral, vivendo em um clima frio, num altiplano, ao mesmo tempo que a faina rude de desbravadores dos sertões, que condicionaram a psicologia paulista, determinando também a sua economia primeira. Aqui não se desenvolvia a cana-de-açúcar, nem Piratininga se achava dentro da rota marítima das viagens oceânicas, dos trajetos para a índia. Era o insulamento, de comunicações escassas com a Metrópole, o que condenava quase à esterilidade qualquer iniciativa produtora.
Por isso tudo, a economia paulista daquela época era primitiva e elementar, tendo mais um caráter doméstico do que relações externas. Assim, no domínio das manufaturas, encontramos pequenas oficinas artesanais, destinadas a atender às poucas necessidades da escassa população dos centros e povoados. Um dos "magnatas" do tempo era Afonso Sardinha (pai), que negociava com o Reino, a Bahia, o Rio de Janeiro, Buenos Aires e Angola, fabricando e exportando marinelada. Posteriormente outro Creso da época, o famoso Padre Guilherme Pompeu de Almeida, igualmente produziu milhares de caixinhas de marmelada, que mandava vender em Minas Gerais. Os afazendados, moradores em torno da vila, fabricavam "chapéus de feltro grosso", feitos pelos índios.
Atividades mais numerosas eram exercidas pelos artífices: ferreiros, alfaiates, sapateiros, padeiros, carpinteiros, etc., localizados nos povoados e vilas e até mesmo na beira das estradas. No fim da primeira centúria do descobrimento, ou seja, em 1598, segundo Afonso de E. Taunay, residiam na cidade de São Paulo, 2 carpinteiros, 1 ferreiro, 2 alfaiates, 2 tecelões, 1 sapateiro e 1 oleiro.
Dois séculos mais tarde, isto é, já ao findar o período colonial, o número de artífices na mesma cidade crescera muito passando para 10 carpinteiros, 21 alfaiates, 16 sapateiros, 4 ferreiros, 4 ourives, 6 cabeleireiros, 4 seleiros e 4 padeiros, todos eles munidos da sua Carta de Ofício, embandeirados e com representação na Câmara local.
A produção de tecido teve um incremento considerável, pois os próprios jesuítas a estimulavam, a fim de cobrir a nudez do gentio. Como o ofício de tecer era então considerado depreciativo, só os índios e os escravos o exerciam. Os interessados plantavam ou compravam o algodão e o entregavam aos tecelões, que cobravam uma vara cada seis tecidos. Eram panos grosseiros de algodão, que chegaram, no entanto, a ser vendidos fora da vila, o que provocou repercussão na Câmara, tendo esta baixado uma ordem de proibição. Supõe-se também, segundo Sérgio Buarque de Holanda, que se fabricou tecidos de lã em São Paulo, no tempo colonial".
Fonte: Extraído do livro "Contando Histórias da História", de Maria de Lourdes Mucci Fermino (Vol. 4) http://migre.me/vwwZT

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