domingo, 18 de dezembro de 2016

1.7 A experiência africana na mineração: (Transcrição)

1.7 A experiência africana na mineração: potencialidades Se a mediação de indígenas no espaço das lavras minerais encontra-se em grande parte subregistrada, o mesmo se pode dizer sobre a atuação dos escravos africanos, vistos simplesmente como a força de trabalho empregada na mineração. É certo que, com a consolidação da atividade mineradora a partir das descobertas das ricas jazidas auríferas nos sertões das Minas Gerais, todo o trabalho nas lavras, desde os processos de extração até a fase final de apuração, baseava-se exclusivamente na mão-de-obra escrava negra. O escravo tornou-se tão indispensável à atividade que, de acordo com as determinações do Regimento de 1702, só poderiam ter acesso às datas minerais aqueles que tivessem mão-de-obra disponível para o emprego nas lavras 163. Se, de fato, eram os escravos quem estabeleciam contato direto com as minas, pode-se dizer então que elas se tornaram propícias para a transmissão não apenas de técnicas de exploração, mas também de crenças e práticas culturais africanas. De fato, vários indícios apresentados pelos documentos históricos (escritos e iconográficos), como as semelhanças encontradas nos métodos de extração aurífera praticados tanto na África164 quanto nas Minas, apontam para a mediação dos africanos no espaço das lavras. É o caso, dentre outros, da técnica do “mergulho” descrita por Bento Furtado no seu relato sobre os primeiros descobrimentos no território das Minas. Segundo o sertanista, os antigos mineradores, ao encontrarem um curso d’água com boas faisqueiras, fincavam estacas de pau em meio a corrente, com o intuito de amenizar seu fluxo, para que então “pudessem mergulhar com as bateias e tirar debaixo da água cascalho e piçarra, sem ter desmonte que impeça, porque naquelas paragens o rápido das correntes as não deixam parar quando vêm corridos dos montes com as inundações das invernadas [...]165. Essa descrição apresenta uma semelhança incrível com a imagem seguinte (FIG. 1), que retrata a extração do ouro aluvional na África no século XVII. Nesta cena se observa um africano prestes a mergulhar com um recipiente nas mãos, enquanto outro chega à tona já com o seu recipiente cheio do sedimento retirado do fundo. Além disso, é consensual entre os pesquisadores que se dedicaram ao estudo da mineração colonial a origem africana da bateia de madeira, de formato afunilado, e introduzida nas Minas setecentistas juntamente com os escravos negros. Todavia, ainda que se reconheça a influência africana, é praticamente impossível identificar com precisão a procedência dos conhecimentos técnicos, uma África que exportaram escravos para a América portuguesa durante os séculos XVI a XVIII, podem ser identificados alguns grandes Impérios e grupos étnicos que detinham uma longa tradição de mineração e metalurgia de metais como o ferro, o ouro e o cobre. É o caso da Senegâmbia, Alta Guiné, Costa do Ouro, Costa dos Escravos, África Centro-ocidental e África Oriental. De forma geral, na África subsaariana, o ferro tornou-se conhecido por volta de 300 a.C., embora os primeiros metais utilizados tenham sido o ouro e o cobre, mais fáceis de manipular no seu estado natural ou mesmo forjar, quando fundidos, do que o ferro166. Na África Centro ocidental, “quando os portugueses atingiram pela primeira vez a foz do Congo, em fins do século XV, verificaram que o ‘mani’, ou rei, do Congo era membro de uma ‘corporação de ferreiros’ rigorosamente hermética”167. Já na segunda metade do séc. XVII, o capuchinho italiano João Antônio Cavazzi de Montecúccolo apontava as diferentes províncias dos reinos do Congo, Matamba e de Angola, onde ricas minas de metais eram encontradas. A província de Chela (Angola), por exemplo, fornecia grande quantidade de ferro, “que se extrai das espumas das águas, amassando perto delas capim grosso, de maneira que, separando-se toda a sua humidade, se torna, aos poucos, matéria consistente, que depois, por meio do fogo, se transforma em ferro perfeitíssimo”168. Também o metal podia ser obtido durante as chuvas quando, perto das minas, os africanos “tomam uma certa terra que as águas levam para os caminhos ou para as valetas e, colocando-a sobre o carvão, tanto a trabalham com os foles que, por fim, separando-se as escórias, fica o ferro muito bem fundido e purgado”169 (FIG. 2). Esses conhecimentos, transplantados para a América portuguesa, certamente poderiam ser aplicados nas prospecções de jazidas e na confecção de ferramentas simples como alavancas e almocafres indispensáveis à atividade minerária, sobretudo quando se tinha o ferro disponível em grande quantidade e geralmente próximo às minas auríferas. a vez que, nas diferentes regiões da   Entre os diferentes povos sudaneses da região africana genericamente denominada ‘Guiné’, os ferreiros constituíam uma casta profissional dentro de uma estrutura social altamente hierarquizada e eram mantidos fora da sociedade possivelmente por causa do poder que detinham: “um poder sobrenatural, que se fazia evidente ao transformarem o solo laterítico em instrumentos de ferro [...]”170. Na Costa dos Escravos (Golfo de Benim), o ferro tinha grande importância religiosa para as sociedades Yorubá, estando o metal intimamente associado aos cultos e à divindade de Ogum171. Já as jazidas de cobre, ao que parece, eram mais escassas no continente africano, sendo encontradas em Takedda e no Magrebe. Todavia, isso não impediu que o seu uso fosse bastante difundido entre os habitantes da larga faixa ao sul do Saara, sendo adquirido através de trocas com árabes e europeus, dos quais obtinham as cobiçadas manilhas. Na maior parte da África Ocidental,
o cobre era extremamente precioso, por sua escassez e caráter mágico. Usava-se nos ritos religiosos e nos adornos dos reis e potentados. Para numerosos povos, era (juntamente com suas ligas) um poderoso amuleto, destinado a assegurar a boa saúde, a favorecer a fertilidade e a conjurar perigos [...]. Era, por exemplo, em bacias de latão ou cobre, e só nelas, que se recolhia, em muitos lugares, o sangue dos sacrifícios”172.
Dentre esses povos, destacavam-se os acãs, grandes produtores de ouro, para quem toda uma importante atividade manufatureira dependia da importação do cobre e suas ligas. E, entre os povos do Golfo de Benim, era notória a destreza com que manipulavam o cobre para a confecção de símbolos de prestígio e poder, como as grandes máscaras de personagens importantes ou divindades173. O ouro, por sua vez, era explorado na Senegâmbia, nas regiões de Bamkuk (alto rio Senegal e rio Felemé), de Buré (alto rio Níger) e de Gabu (ao sul do Gâmbia, nos rios Geba e Corubal); na Alta Guiné (nos pequenos campos auríferos da Serra Leoa); na Costa do Ouro (atual estado do Gana), onde era explorado pelos acãs, adangbés e gás, posteriormente substituídos pelos ashantes; na região entre os rios Comoé e Volta; em Lobi (rio Volta Negro) e em Zamfara e Kangoma (norte da Nigéria). O ouro também era encontrado nas ricas jazidas da África Oriental, na região entre os rios Limpopo e Zambeze que delimitavam o império do Monomotapa (Moçambique). A constatação de que muitos dos escravos trazidos para o Brasil provavelmente eram peritos no trabalho com diferentes metais permite pensar que, juntamente com as técnicas de extração, foram trazidas para as lavras auríferas práticas de falsificação. Os relatos sobre as formas como os africanos fabricavam ouro falso evidenciam algumas das estratégias adotadas pelos escravos nas lavras, como a mistura de limalha de latão e ouro em pó, alvo constante das reclamações de autoridades régias e dos oficiais das Casas de Fundição das Minas no século XVIII. Ao observar a mesma prática entre os africanos da região da Guiné, relata o viajante W. Bosman: 
Eles fundem alguns bocados, de maneira a arranjar uma capa exterior de ouro da grossura duma faca, mas dentro apenas há cobre e, muitas vezes, ferro; inventaram isto ainda não há muito tempo, mas o ouro falso vulgar é composto de prata, de cobre e de uma pequena quantidade de ouro; apresenta uma cor bastante escura, o que engana facilmente. Há uma outra espécie de ouro falso que se assemelha muito ao ouro maciço e não passa duma certa matéria composta de coral fundido. Também têm ouro em pó, embora para isso se sirvam quase sempre de cobre limado, ao qual dão a cor do ouro.17
De todas as diversas regiões africanas acima identificadas, a exportação de escravos para a América portuguesa variou de acordo com as diferentes conjunturas econômicas e políticas que determinaram o comércio transatlântico. A dinâmica deste comércio poderia ser, grosso modo, resumida nas seguintes considerações de Paul Lovejoy:
 A primeira grande fonte de escravos para as Américas, a área de Angola e do Congo, permaneceu um exportador substancial até quase o final do século XIX. A segunda região a se tornar um grande fornecedor foi a Costa dos Escravos (golfo do Benim), que entrou num período de expansão particularmente rápida no final do século XVII, continuando pelo século XVIII até o fim do comércio no século XIX. A terceira área a experimentar um profundo crescimento das exportações foi a Costa do Ouro, cujas exportações subiram vertiginosamente no inicio do século XVIII, mas caíram em 1800. A quarta área foi a da baía de Biafra, centralizado no delta do Níger e no rio Cross, que subitamente se tornou um dos principais exportadores na década de 1740 e continuou a sê-lo durante um século. Outras regiões da África ocidental conheceram súbitos aumentos [...]175.
Tomando-se especificamente o século XVIII, o período durante o qual as Minas foram sistematicamente exploradas é concomitante com o aumento da exportação de escravos oriundos da Costa do Ouro. Este aumento poderia ser explicado, de acordo com Eduardo França, pela demanda dos mineradores luso-brasileiros durante a segunda metade do século XVII e a primeira do século XVIII por negros ‘Mina’, denominação genérica que “incluía os escravos oriundos dessa região africana ou embarcados em algum porto dessa região, principalmente o de Ajudá”176. Esses escravos, embarcados na Costa da Mina, dominavam tradicionalmente técnicas de mineração e metalurgia do ouro e do ferro. Nesse sentido, “tratou-se, pois, de equipar a região da Colônia com mão-de-obra especializada. Ao contrário, então, do que se tem pensado em geral, o tráfico atlântico de escravos obedeceu, ainda que parcialmente, a parâmetros originados de demandas específicas, como, por exemplo, as surgidas entre os mineradores coloniais”177. Russel-Wood parece compartilhar a mesma opinião, ao afirmar que “a demanda dos mineiros estimulou o comércio de escravos da Costa da Mina, a ponto de, durante as três primeiras décadas do século XVIII, a importação de ‘minas’ ter excedido a de angolanos”178. Mas, se a demanda por escravos especializados em mineração era capaz de orientar o tráfico, como explicar o fato de não ter tido  
 um estímulo maior à importação de negros (moçambicanos) da África oriental, onde a riqueza das minas da região do Monomotapa era particularmente conhecida no comércio índico? Andréa Lisly, com efeito, discorda dequela interpretação, argumentando que não só os mineradores setecentistas tinham preferência pelos negros ‘Mina’, mas também os agricultores. Para a autora, “parece plausível que fatores de ordem técnica não tenham sido imperativos na determinação da demanda por escravos da etnia Mina”179. Primeiramente, porque nem todos os africanos escravizados na Costa da Mina provinham de regiões mineradoras. Em segundo lugar, a demanda por escravos de determinada etnia influía na composição dos diferentes plantéis não tanto pela atividade econômica que o proprietário desenvolvia, mas estava condicionada à flutuação do tráfico internacional, que, por sua vez, obedecia, em parte, a fatores internos da realidade africana e às disputas entre europeus por portos comerciais, o que, muitas vezes, redirecionava os fluxos do tráfico. Assim, possivelmente esses redirecionamentos de fluxos podem explicar a questão colocada acima. Partindo do pressuposto que a contribuição africana no desenvolvimento da mineração colonial é potencialmente múltipla, uma vez que em diferentes regiões da África havia uma tradição de mineração e metalurgia, é possível considerar que, já nas primeiras expedições aos sertões que contavam com escravos negros, estes participaram com seus conhecimentos e experiência na busca de metais e pedras preciosas. Um dos primeiros registros da presença de escravos africanos nas lavras minerais se dá justamente em fins da década de 1590, com as explorações de Afonso Sardinha, o moço, nas minas auríferas do morro do Jaraguá. Nos últimos anos quinhentistas, esse paulista “os mandou buscar por intermédio de Gregório Francisco, chegando ao gosto de possuir um navio de carreira de Angola para S. Vicente”180. A origem do nome do morro aurífero parece confirmar não apenas a simples presença, mas a atuação africana nestas explorações.O Jaraguá, como ficou conhecido o morro descoberto, corresponde a um personagem afro-brasileiro do bumba-meu-boi, formalmente similar a outras figuras africanas de cortejos e autos dramáticos. De acordo com Raul Lody, o Jaraguá é “um personagem ancestre, fundador e totêmico, contudo a memória popular transferiu funções e simplificou o seu aparecimento público na figura do Boi”181. É sabido que muitos povos bantos, que ainda hoje praticam a atividade pastoril, têm o boi como animal sagrado para o qual dedicam cultos e ritos. Cabe aqui a pergunta: crenças e mitos africanos teriam sido reapropriados, ganhando novos significados e manifestações no espaço das lavras, onde junto às esperanças de encontrar riquezas se misturaram agouros, adivinhações, feitiços e outras práticas religiosas? As crendices colhidas por Aires da Mata Machado entre negros garimpeiros de São João da Chapada, em princípios do século XX, ainda que tão cronologicamente apartadas daquele “Jaraguá”, oferecem alguns indícios dessas resignificações e permanências: 
De outra parte crê nos sonhos fastos e nefastos. Variam as interpretações, segundo o resultado da experiência. Em todo caso, há sonhos que se decifram de maneira igual para quase todos [...]. Sonhar com um boi à distância é diamante certo mas demorado. Se ele aparece mais perto, mostra que o diamante não tarda. Sairá na primeira lavagem, se a pessoa luta com o boi durante o sonho. Esse tipo de sonho é dos mais certos, e por todos interpretado de maneira igual. Importa sublinhar esses sonhos de que o boi é o protagonista182. 
Como já mencionado anteriormente, também africanos de outras origens étnicas detinham conhecimentos e habilidades que se tornaram fundamentais no espaço das lavras. O destaque no caso cabe aos negros que genericamente eram denominados ‘Mina’. O poder que se atribuiu aos ‘minas’ fez com que, no século XVIII, se tornasse crença comum entre os mineradores que, se não tivessem consigo uma negra ‘mina’, não teriam sorte nas suas explorações.183 De certo modo, essa crença tinha fundamento, pois sob a denominação ‘Mina’ se misturavam africanos de variadas procedências, tanto da costa quanto do interior do continente, incluindo aqueles oriundos das regiões produtoras de ouro. Também entre os ‘Mina’ encontravam-se os negros “mandingas”, tidos por grandes mágicos e feiticeiros184. Na África subsaariana, antes do processo de mundialização ibérica, o islamismo se difundiu, atingindo as regiões dos grandes impérios de Ghana e Mali, e permaneceu coexistindo com as antigas práticas religiosas e tradições animistas dos africanos. Os africanos islamizados eram, em geral, considerados detentores de um poder especial, e até sobrenatural, oriundo de rezas fortes e do dom de fazer talismãs eficazes, “como os grigris, uns saquinhos de couro contendo um  papel com um trecho do Alcorão, os quais, pendurados ao pescoço ou costurados à roupa, protegiam contra a feitiçaria e as armas inimigas [...]”185. Tais conhecimentos seriam de grande préstimo no contexto das bandeiras descobridoras, nas quais sertanistas enfrentavam todo tipo de obstáculos seja no plano material seja espiritual. De forma que, 
[...] antes de partir cada bandeira, os mais supersticiosos não se esquecem da oração para achar ouro, levando-a também escrita nos seus patuás: ‘em nome de Deus padre, em nome de Deus filho, em nome do Espírito Santo, ar vivo, ar morto, ar de estupor, ar de perlesia, ar excomungado, eu te arrenego em nome da Santíssima Trindade’186.
Seria essa prática uma apropriação de crenças de escravos islamizados, na qual se misturaram elementos da religião católica para uma maior eficácia contra os inimigos sobrenaturais que escondiam as minas? Apropriação de crenças e de conhecimento prático capazes de revelar o verdadeiro local das jazidas, tal como fez o “moleque magnético” de Antônio Bueno Azevedo, nas imediações do ribeirão Vermelho:
Quem sabe lá se o tal saci africano, que ele trazia consigo, lhe descobriria o lugar onde se achava escondida tanta riqueza? Pois dito e feito. Tais foram as cambalhotas do moleque, saltando como um demônio e garatujando nomices de todo geito, que não podia mais haver dúvida. Era aí mesmo e (coisa incrível) não teve o bandeirante outra coisa a fazer ‘sinão dar imediato começo á mineração’.187
Entre os diferentes escravos africanos que aportaram na América portuguesa entre os séculos XVI-XVIII, encontravam-se aqueles oriundos de regiões onde a mineração era praticada e onde também existiam enraizadas práticas religiosas fortemente associadas com os metais (veja-se o caso dos yorubás – importância do ferro associado a Ogum). Estas crenças e práticas, além do conhecimento técnico especializado, teriam sido reapropriadas no contexto das lavras minerais, transmitidas entre africanos que originalmente não detinham esses conhecimentos, e repassadas entre os inúmeros escravos empregados nas lavras minerais. Nesse sentido, é significativo que, no contexto das Minas Gerais, os negros e mulatos, escravos ou livres, apareçam muitas vezes como os verdadeiros descobridores das jazidas auríferas. 
Na condição de faiscadores, minerando em busca de algum ganho para seus senhores e também para o seu próprio sustento, mudavam constantemente de lugar em busca de melhores paragens, transitando sobre os rejeitos dos grandes serviços, em minas abandonadas, em rios e morros poucos explorados, ou mesmo desconhecidos, em busca de novas faisqueiras/pintas. O conhecimento que estes faiscadores detinham ou adquiriam, juntamente com a mobilidade que esta atividade lhes proporcionava, teria configurado um espaço de ação para estes agentes no qual figurariam estratégias para melhores condições de vida e até mesmo para a liberdade. 
Fonte: Flávia Maria da Mata Reis - ENTRE FAISQUEIRAS, CATAS E GALERIAS: EXPLORAÇÕES DO OURO, LEIS E COTIDIANO NAS MINAS DO SÉCULO XVIII (1702/1762) http://migre.me/vKOwX

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