"Outra (povoação) está doze léguas pela terra dentro,
chamada São Paulo, que edificaram os Padres da
Companhia". Pero de Magalhães Gandavo, História da
Província de Santa Cruz (1576), ed. de São Paulo, 1922,
pág. 76.
"Muitas destas fontes históricas... são documentos
da Companhia de Jesús, que foi a própria fundadora da
grande Cidade e o foco inicial da cultura paulista, com
o seu famoso Colégio." — S. Leite, VI, XVII.
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III — ALDEIA DE PIRATININGA
Piratininga era o nome que davam os índios a um "ribeiro
afluente do Tietê", que, extravasando na cheia, deixava a secar ao,
sol quantidade de peixes, ao refluir para o leito na vazante. Mui-.
to se tem discutido sôbre a sua identificação. A carta de Nóbrega,
de 2 de setembro de 1557, que o distingue claramente do Tietê
ou "Rio Grande" (10); a petição de Luís da Grã, em 1560, e
o respectivo despacho (11) para troca de uma data de terras,
das suas margens onde impedia a expansão da Vila, para junto
ao novo caminho do Cubatão, em direção ao rio "Geribatiba-açú",.
o Rio Grande dos Pinheiros; a discriminação geográfica dêsses rios .
por Frei Gaspar da Madre de Deus (12), me levam a preferir a
opinião dos que o identificaram com o Tamanduateí (13) .
Campos de Piratininga era como se conheceram as terras
banhadas por êsse rio, que contornava à sua esquerda ampla e
boscosa elevação existente entre êle, o largo vale do Jurupatuba
(Rio dos Pinheiros) e que vinha morrer suavemente a meia légua
de distância do Anhembí ou Rio Grande, atual Tietê. Nessa região
se situava a taba de Tibiriçá, que parece ter-se designado r
desde muito, como aldeia de Piratininga. Era uma das várias aldeias
distantes quatro ou cinco léguas, em média, 4e Santo André,,
que visitara Leonardo Nunes em 1550, 1551 e quiçá ainda no
ano seguinte.
Guaianases é como denomina a êstes índios Frei Gaspar da
Madre de Deus, nome que já se encontra em Simão de Vasconcelos,
sem que se deva necessàriamente aplicar aos mesmos. João
Staden, Antônio Rodrigues, Anchieta, os chamam tupiniquins, ou
preferentemente o último, simplesmente tupis, tupis do campo.
Contando com a amizade dêsses índios, sôbre os quais se exercia
a influência de João Ramalho, com êles aparentado, através de
sua união com Bartira, filha — e hoje há quem diga irmã — do
Principal Tibiriçá, fundou Martim Afonso, junto ao rio de Piratininga
em 1532, uma segunda Vila, além da de São Vicente. A
solidão e a ausência de interêsse econômico imediato fizeram que
logo se despovoasse, vindo-se todos para o mar — explica Nóbrega
—, atraídos pela navegação que os punha em contacto com o
Reino.
A sombra, porém, do prestígio do fronteiro do Campo e sua
numerosa família, sempre ficaram alguns brancos, os elementos,
certamente mais rudes e audazes. A êstes persuadiu Leonardo
Nunes, em 1550, que se reunissem em tôrno da ermida de Santo,
André. Aí os encontrou, já não todos, que de novo se haviam
dispersado alguns, o Governador Geral. Obrigou-os a juntar-se,.
fortalecer a povoação para a defesa. Deu-lhe a categoria de Vila,
nomeando-lhe para alcaide e juntamente guarda-mór do Campo,
a quem, mais que nenhum outro, para isso fazia jús com o,
prestígio adquirido e as qualidades reveladas, João Ramalho.
Discute-se a respeito da localização primitiva das tabas piratininganas
. Ã margem do Jeribatiba, mais próxima de Santo André
da Borda do Campo e da Serra de Paranapiacaba, estava o
velho Caiubí. No Guaré, junto à confluência do Tamanduatei,
com o Tietê, a de Tibiriçá. Ou nos Campos Elíseos, querem outros.
Ou no Emboaçaba, junto à confluência do Jeribatiba com o
mesmo Tietê. Bem poderia ter ocupado sucessivamente todos êstes
sítios. Outras aldeias se espalhariam às margens do Tietê, do
Pinheiros e seus diversos afluentes. Sôbre êsse ponto, sôbre o
qual tantos e tão acatados pesquisadores da história de São Paulo,,
Teodoro Sampaio entre os primeiros, têm emitido suas opiniões,.
dificilmente, dada a escassez de documentos, poderemos passar
das conjeturas, mais ou menos bem fundadas.